descobri uma vizinha desse meu tempo Ana Maria Gastão Assunção Não há ciência para nós, nem o corpo é semente dispersa de uma memória exacta. Somos tu e eu, elevados da terra a um círculo de luz, espessa música. Descansa em minha sombra para lá da superfície do tempo, escreve-se a noite a toda a largura do mundo que prossegue sem nos ver. Nada pode fixar-se ou ganhar forma, pois forma já não temos quando tuas asas curvas desenham o movimento do fogo. Aperto-te contra mim; nada do que se possa dizer convém à dor de carne suada, morre-se de um beijo com um grito dentro e a paisagem, límpida, pode quebrar-se em nossas mãos. Sobrevive-nos a cor incendiada, porém, porque só o irrepetível se eterniza e só o humano é divino. Ergue-me, assim, por baixo de uma vida cheia de sangue. Deixa-me ir, primeiro os pés, a luminescência, depois o tronco, húmido, levitando nas entranhas de água, a cabeça já sem rosto pregada a uma estrela cadente na cicatriz de um chão sacro. Vê como a alucinação traz meu...